O quanto você tem se deparado com crianças que não conseguem lidar com frustrações? Que quando são privadas de fazerem ou terem aquilo que desejam, têm reações intensas de birras, agressividade e desregulações emocionais? Pois bem, essas experiências têm se tornado cada vez mais presentes na vida de muitas famílias e nas próximas linhas vamos pensar sobre porque isso tem acontecido e como podemos responder a estas situações.
As famílias atuais são muito diferentes das gerações anteriores por representarem uma sociedade em que os filhos vêm depois dos estudos, do emprego, da independência financeira e de algum sucesso na carreira. Vêm depois da faculdade, da profissão, da pós graduação, do apartamento próprio, das viagens dos sonhos e da maturidade. Em muitas famílias os filhos chegam muito depois do que chegavam antes. E no que isso implica? Implica em famílias que concebem seus filhos em um momento da vida completamente focado nelas e para elas. Todos os planos, pensamentos, expectativas e intenções são para ter filhos e cuidar deles, oferecendo todo o amor, apoio, oportunidades e disponibilidade para eles. Esse não é um problema, é claro! Os filhos crescem saudáveis e com sentimentos de auto- estima fortalecidos quando sentem-se queridos e amados pelas pessoas mais importantes das suas vidas. O problema é quando, em prol da felicidade dos filhos, toda e qualquer experiência de frustração é evitada e faz-se tudo, o possível e o impossível, para que eles não passem por situações difíceis. E isso pode ser ainda mais comum em famílias em que os filhos foram tão esperados e sonhados e em que há uma expetativa tão grande na vida dos pais sobre como eles transformarão as suas vidas em uma felicidade eterna, que entendem que protegê-los sempre é o maior lema a ser seguido. Vivem como se frustrações (sofrimentos, rejeições, discordância de idéias e necessidades) não precisem ser vividos, e mais, não devem ser vivenciados. Assim: o peixinho morreu e para que a criança não vivencie esta experiência tão triste (na percepção dos adultos), vamos trocá-lo antes que ele perceba! Não vamos fazer um passeio ao shopping porque ele pode ver um brinquedo muito legal que ele queira muito e não podemos presenteá-lo agora… tadinho!
Hoje iríamos passar o dia na praia mas está chovendo e para que ele não fique triste nem bravo, vamos ter que fazer um programa hiper mega legal para que ele sem sinta a frustração de não poder fazer o que deseja! Meu filho disse que não quer ir para a escola mais depois que ficou sem poder brincar na hora do recreio pois não havia feito a tarefa de casa e precisou fazer neste momento, então vou lá falar com a professora para ela permitir que ele brinque no recreio!
Se você se identificou com algumas dessas situações ou com muitas destas semelhantes, este pode ser o cerne da questão: você pode não estar permitindo que o seu filho vivencie as frustrações comuns da vida. Uma afirmação que sempre faço para as famílias é que só há uma maneira de ajudar os filhos a lidarem com frustrações: permitir que eles se frustrem. Talvez isso seja mais difícil para os pais do que para as próprias crianças. Afinal, não queremos vê-los passando por nenhuma experiência difícil. Porém, é importante que tenhamos consciência que estamos ajudando as crianças a preparar-se para lidar com as dificuldades quando deixamos que passem por elas, experimentem as sensações que fazem parte da vida, reflitam sobre isso, elaborem e criem novas possibilidades de agir diante do mundo. A idéia é que possamos apoiá-los nestas horas, acolhendo-os e conduzindo-os para a ampliação de repertórios para encarar o problema da próxima vez. É um aprendizado que eles levarão para a vida!
Para pensarmos juntos em algumas maneiras de falar com as crianças nos momentos de frustração, seguem algumas sugestões que poderão servir como uma indicação de caminhos a seguir. Vocês irão adaptar ao seu modo, famílias:
“Sei que você queria muito ir à praia hoje, afinal já nos divertimos demais juntos quando fomos outras vezes. Também fico triste por hoje não podermos ir e se eu pudesse já estaria lá com você! É uma pena mesmo” (falas que denotam empatia com a criança, compreensão e seu desejo de ajudá-lo a sentir-se bem realizando a sua vontade, mesmo que ela não possa ser atendida).
“Você está bravo por não ter conseguido vencer no futebol hoje, não é mesmo? Sim, eu sei como é, já passei por isso também. Mesmo assim, não é permitido que a gente bata no colega, grite ou xingue. Teremos que pensar em um jeito de reparar isso com ele e de nas próximas vezes você agir de outro jeito, mesmo que esteja muito chateado!” (Falas de empatia, de estabelecimento de limites e de reflexão sobre maneiras de reparação, além de possibilidades de desenvolvimento de novos repertórios alternativos se ação em situações futuras).
“Iiii, aquele brinquedo era o que você já estava querendo há muito tempo, eu sei. Pena mesmo que não podemos comprá-lo. Acho que teremos que pensar em uma outra forma de se divertir, sem esse brinquedo mesmo. Vamos?” (Falas de empatia e de encorajamento à resiliência frente a situações- problema).
Sistematizando:
Empatia
Limites
Encorajamento para resiliência
Novas maneiras de agir
Reparação
Regulação emocional
Conte-nos as suas experiências com as suas crianças!